A EMBRIAGUEZ DA POESIA
A taça de vinho transbordou de poesia
E escorreu pelo tapete da sala
Manchando o belo mosaico no qual perdi meu olhar
Penetrei em cada forma
À procura da forma para encaixar meu poema
Deixar minha veia poética pulsar...
Não a encontrei
A forma do meu poema estava incrustada
Na vida que vivo
E antes de esvaziar a garrafa de vinho
Já havia transbordado em mim...
Antes da embriaguez
Que me trouxe a lucidez
O poema já estava em mim...
A mancha de vinho no tapete apenas o revelou
E manchei uma página em branco
Com as palavras embaralhadas que vislumbrei nela
Alguém mais as notou?
Alguns dirão que estou bêbada... não!
Embriago-me de vida todos os dias
O vinho é apenas um entorpecente
É o bálsamo da ilusão
Para que eu não sinta tanta dor
E não me desespere
E não morra de decepção
E não deseje a fuga mais rápida...
O calor ardido do líquido que desce por minha garganta
Impede que o amargo da vida salive em minha boca
E azede a criação que está por ser parida
A taça quebrada pode ser uma arma mortal
Na hora da dor de existir
E encontrar a poesia na mancha do tapete
É a redenção... a salvação...
Nas noites em que a vida não basta
"Pai, afasta de mim este cálice!"
Para que a poesia me redima
E eu possa transbordar...
Com a embriaguez que me inunda o coração
Em minha condição de poeta lídima
Cleusa Piovesan
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