A EMBRIAGUEZ DA POESIA

A taça de vinho transbordou de poesia

E escorreu pelo tapete da sala

Manchando o belo mosaico no qual perdi meu olhar

Penetrei em cada forma

À procura da forma para encaixar meu poema

Deixar minha veia poética pulsar...

Não a encontrei

A forma do meu poema estava incrustada

Na vida que vivo

E antes de esvaziar a garrafa de vinho

Já havia transbordado em mim...

Antes da embriaguez

Que me trouxe a lucidez

O poema já estava em mim...

A mancha de vinho no tapete apenas o revelou

E manchei uma página em branco

Com as palavras embaralhadas que vislumbrei nela

Alguém mais as notou?

Alguns dirão que estou bêbada... não!

Embriago-me de vida todos os dias

O vinho é apenas um entorpecente

É o bálsamo da ilusão

Para que eu não sinta tanta dor

E não me desespere

E não morra de decepção

E não deseje a fuga mais rápida...

O calor ardido do líquido que desce por minha garganta

Impede que o amargo da vida salive em minha boca

E azede a criação que está por ser parida

A taça quebrada pode ser uma arma mortal

Na hora da dor de existir

E encontrar a poesia na mancha do tapete

É a redenção... a salvação...

Nas noites em que a vida não basta

"Pai, afasta de mim este cálice!"

Para que a poesia me redima

E eu possa transbordar...

Com a embriaguez que me inunda o coração

Em minha condição de poeta lídima

Cleusa Piovesan

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Cleusa Piovesan
Enviado por Cleusa Piovesan em 09/07/2020
Código do texto: T7001109
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