MEDO
O tempo é chuvoso,
faz um pouco de frio
e há uma angústia
pairando no ar.
Essa cena já aconteceu
faz tanto tempo
ou até mesmo
pode ser recente.
Algumas vezes
ou tantas vezes.
Falo do medo de não ter
o próximo instante.
Quando a aceno da despedida
pode ser o último do dia
e o beijo de amor
ainda sentido não mais se repetirá.
E a luz distante da bomba lançada
que apaga vidas,
clareia nas retinas das nossas guerras
o medo do próximo ataque.
A Bala perdida que mata a esperança noutra casa, noutra rua
ou de alguém esperançoso
que passava na avenida.
Havia medo nas vidas
que ficaram na varíola,
na gripe espanhola
e na peste bubônica.
Agora a vida para
noutra pandemia.
Não vejo mais sorrisos,
a máscara embarga a voz.
Falta-me o abraço.
Sinto medo,
esse mesmo medo
tantas vezes sentido.
Pintura: Amor e Dor, Edvard Munch, 1894