A PORTA
E surge a porta maciça e pesada
Incrustada na parede de pedras,
De aparência betumada
Ou simplesmente enegrecida
Pela ação inclemente do tempo.
Uma aldrava forjada em bronze
Dava-lhe um aspecto ainda mais austero.
A porta permanecia fechada e escondida
Entre cipós e trepadeiras,
Sombria, assustadora, assombrada,
Quem sabe?
Quantos fantasmas abrigados por ela?
Talvez sonhos escondidos,
Pesadelos esquecidos...
De repente o lamento da dobradiça
Enferrujada, seca, maltratada:
A porta se entreabre por magia,
Um sobressalto, apreensão, surpresa!
Uma luz impactante surge na fresta aberta,
Uma brisa suave e refrescante
Vinha do interior atrás da porta.
Um passo titubeante e o êxtase:
Uma sala limpa e iluminada pelo sol,
Uma melodia acolhedora soava no ar,
Mas nenhum habitante,
Apenas um lugar de aconchego,
De calor que acolhe
Como coração de mãe.
Muitos são portas fechadas, assustadoras,
De quem outros querem distância,
Sem imaginar o que esconde
E perdem, por preconceito,
Por julgar precocemente,
Um forte lenitivo para a alma
Que segue cansada, sedenta e ferida,
Esquecendo-se de que o belo é tesouro
A ser buscado no âmago do coração.