TESTEMUNHO

TESTEMUNHO

Viver sem perceber sequer que vive...

Parece ser a esfera irrefletida

De quem como eu passara toda a vida

Negando que estivesse n'um declive:

-- Lembre-se qu'eu também aqui estive!

Não terá sido inútil o que obtive

Com tanta luz frustrada de saída.

Minha miséria é coisa conhecida...

Condenada por muitos, inclusive!

-- Lembre-se qu'eu também aqui estive...

Quem sou? Em que me livre; em que me prive,

Tão-só me desconheço em minha lida.

A existência, uma sarça consumida

Da qual apenas cinzas me retive...

-- Lembre-se qu'eu também aqui estive!

Diga-me, quem comigo mais convive,

Pois ando sem saber quanto valida

A caminhada vã logo cumprida

E enfim desapareça no que tive...

-- Ou esqueça qu'eu também aqui estive.

Betim - 30 06 2020