O Sopro

A caminhada reencontra a chuva,

Rompe o vento e aspira o perfume estonteante da poesia viva

A vida

A felicidade é um sonho imenso

Um beijo intenso

Um prazer consenso

Sentenciada num espaço minúsculo, entre um segundo e a eternidade.

E nós ?

Ilhas humanas

Vivemos dependentes das fábricas de ilusões

Presos nas angústias de uma auto piedade, no torpor doentio do tédio

Somos compradores complacentes

Observando vitrines, vazias de gente

Em passadas velozes e sem rumo, sob um semblante de risos carentes.

Na aventura desconexa do viver, doamos um coração sem preço

Esperando uma partícula de amor verídico

Que preencha as lacunas entre a música e o sofrimento

Que desate os nós, dos versos tristes que nos dissecam

E que cicatrize os cortes profundos, que se reinventam a cada lágrima.

As vozes ocultas dos nossos julgadores

Nos perseguem nas madrugadas de solidão vencida

Nas praias, cachoeiras, rios e bares

No banho de chuva que ainda nos pertence,

Sem crime consumado

Sem culpa

Sem inocência

E nós ?

Juntos

Desprendemo-nos do visgo vicioso da mesmice

Combatendo dia a dia, por uma vida plena, digna e rara

Num respirar persistente

Na suavidade da brisa, depois da chuva.

Na perfeição do sopro divino

RogerioCalais
Enviado por RogerioCalais em 02/07/2020
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