Invisíveis

Manhã fria, pés descalços
Manhã fria, escorregadia.
Café da manhã, quem podia?
A dor curvada, a cama na calçada
Sob duro fardo, tudo pelo que passara.
Uma pergunta o distraía. Onde o tempo?

E ele sabia, o tempo é ilusão
Mas ele queria, e no ar havia um talvez.
O que ele não sabia
É que a morte já tinha vindo 
E o sonho não era mais
O grito da fome não se sobrepõe
Ao resto de tudo que vive na surdez
É um rasgo, um clarão na indiferença
Um risco na contramão.

A multidão caminha e a manhã é fria
Tanta gente não via...ele não via também!
Mas seu olhar tão vazio, quase insensível
Foi quem primeiro gritou.

Descobriu-se na estatística:
Ele não existia, ele era ninguém.






Nota: "País tem conjunto de pessoas invisíveis para o governo"
Paulo Guedes, Ministro da Economia.
 
Sonia R
Enviado por Sonia R em 01/07/2020
Reeditado em 01/07/2020
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