CONSELHEIRA PRIMAZ
A morte me serve de norte
nesta vida sem rumo
Por ela meço meus atos
descobrindo sua validade
revelando sua estupidez
Por ela miro os amantes
os pais com seus filhos
e as rodas de amigos
e sinto que é o mais perto do Paraíso
que se pode ter neste mundo
Ela me dá lucidez
para ver o óbvio velado
para andar como andarilho
para ver como um viajante
e sofrer menos
com as causas perdidas
e sorrir sem triunfo
com as lutas vencidas
É ela que traz à tona
as memórias que valem
os gestos necessários
a força sob medida
as falas indispensáveis
É quem me tira a ilusão
dos dias eternos
das horas sem fim
do tempo infinito
de tudo que é bom
e não se acaba
É luz que ilumina
o passado e o futuro
e, em demasia, o presente
Pelos conselhos que dá
dissipando sonhos nevoentos
desejos pueris
vontades frívolas
e tudo que é vão
acelerando, mais que o necessário,
as batidas desse coração mortal.