A POESIA DE TODA VIDA
 
a poesia de toda vida
esteve por tempos contida
nos vãos pequenos das janelas
atrás das sombras das portas
onde os olhos jamais alcançaram
como um tesouro de pirata
escondido no fundo do oceano
com riquezas infinitas
coisas que no dia a dia
passaram por nós despercebidas
a verdade do espelho de cada dia
o instante que se transfigurou
em segundos apenas
aquelas flores que nasceram
nos jardins do vizinho
o espanto de um susto
a côr do silêncio
um pensamento que persistiu
a tão sutil densidade das coisas
o sabor melado da alegria
a mão seca que tocou a agonia
a fidelidade dos sentimentos puros
a imagem lúcida perdida no tempo
a poesia de toda vida
nasceu e morreu com o tempo
não foi vista pelos olhos distraídos
tentou acenar tantas vezes
desesperadamente quis dar sinal de vida
mostrar que estava ali para ser escrita
nasceu fresca e jovem
mostrou sua beleza até que envelheceu
mostrou nas rugas o segredo da poesia
mas invisível, não sobreviveu...
 
Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 30/06/2020
Reeditado em 14/07/2021
Código do texto: T6992056
Classificação de conteúdo: seguro