O BARRO
Contemplo os tijolos nus da parede,
Sobrepostos uns aos outros,
Somente uma camada de barro entre eles.
Anos a fio, unidos pelo barro agora seco;
Vieram ventos e tempestades,
Vieram golpes a marteladas,
O reboco caiu, mas não eles.
Não há rachaduras,
Mantêm-se firmes como desde sempre.
Mas os tempos evoluíram e agora
Nem cimento evita a corrosão e trincas.
A argamassa não consegue os feitos
Do barro amassado com enxada.
Quem dera fôssemos assim,
Que algo tão simples e natural nos unisse,
Porém sempre buscamos mais e mais
E nossas paredes sempre
Apresentam fendas que tentamos disfarçar
Com massa corrida, tinta e belos quadros.
Quando foi que perdemos nossa essência,
Que esquecemos o valor sublime do ar?
Esquecemos a terra, a água e o fogo,
Os elementos essenciais à vida.
Buscamos fabricar novas cores
Esquecemos o amarelo do sol, das estrelas e luar;
O branco das nuvens,
O verde da relva, dos campos e matas;
O azul do céu e o arco-íris...
Todas as cores de valor estão na luz
Dos olhos de quem vê.
As luzes e cores que criamos
Levam-nos à cegueira do brilho
Sem sentido.
Simplesmente ser o barro que une
E se deixa moldar é o sentido
Do ser e da vida que segue.