O BARRO

Contemplo os tijolos nus da parede,

Sobrepostos uns aos outros,

Somente uma camada de barro entre eles.

Anos a fio, unidos pelo barro agora seco;

Vieram ventos e tempestades,

Vieram golpes a marteladas,

O reboco caiu, mas não eles.

Não há rachaduras,

Mantêm-se firmes como desde sempre.

Mas os tempos evoluíram e agora

Nem cimento evita a corrosão e trincas.

A argamassa não consegue os feitos

Do barro amassado com enxada.

Quem dera fôssemos assim,

Que algo tão simples e natural nos unisse,

Porém sempre buscamos mais e mais

E nossas paredes sempre

Apresentam fendas que tentamos disfarçar

Com massa corrida, tinta e belos quadros.

Quando foi que perdemos nossa essência,

Que esquecemos o valor sublime do ar?

Esquecemos a terra, a água e o fogo,

Os elementos essenciais à vida.

Buscamos fabricar novas cores

Esquecemos o amarelo do sol, das estrelas e luar;

O branco das nuvens,

O verde da relva, dos campos e matas;

O azul do céu e o arco-íris...

Todas as cores de valor estão na luz

Dos olhos de quem vê.

As luzes e cores que criamos

Levam-nos à cegueira do brilho

Sem sentido.

Simplesmente ser o barro que une

E se deixa moldar é o sentido

Do ser e da vida que segue.

Suely Buosi
Enviado por Suely Buosi em 27/06/2020
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