À VIDA REMOTA...UM VERSO A DISTÂNCIA

Por aqui...acionamos o nosso cenário remoto.

Nos botões dum descontrolado controle,

Tudo passa pelo remoto presente,

Desde o remoto passado até o remoto futuro.

Um tempo de descontrole remoto

A passar a meio fio das existências presentes

A consagrar o futuro perdido

Das tantas vidas a distância de viver.

O respirar é mascarado

A convivência é quadriculada.

Toda a emoção é remotamente acionada,

Em qualquer mais remota tela.

Não há perfume.

A anosmia

foi trazida pela mais deletéria infecção:

A do descaso remoto universal.

Pactual.

Meu verso é só verdade, eu nunca minto.

E não o faço só porque

Todo o remoto aprendizado deu na tela da televisão.

Verso é sempre verdade porque é essência presencial.

E a minha tela nunca foi poesia remota.

Verso é sentimento de alma presente.

Eu sou insistente

Embora hoje não se conteste remotas ordens

Mascaradas na obviedade do tudo.

Quem se atreveria a ver,

Se o enxergar pode dar pane remota nas redes?

O palco é o das transitoriedades inúteis

Onde entender, é tão remoto quanto morrer.

Tudo corre remotamente para o nada.

O saber é pífio...e desprezível.

Existir é guerra.

Toda delicadeza é sinônimo de fraqueza.

Porque hoje também se morre a distância

Dos socorros remotos que se calam porque nunca vieram.

Quantas mortes programadas no tempo

Como apoptose planejada aos tecidos sociais.

Tudo esgarçado, puído de propósitos,

Onde remotamente se pode enfeitar as tragédias

Com flores de plástico.

Sem órgãos sociais,

Remotamente só corpos moribundos!

Mata-se o Poema principal.

Eis a septicemia dos Homens sobre Homens.

Pandemia de covas que enterram os sonhos,

Todas abertas por remotas mãos.

A educação é remota, a saúde é remota

A atenção, o cuidado, a compreensão, a amizade

A fraternidade

O trabalho, a palavra, o microscópio, a conveniência.

Quanta inconsciência remota!

Remota também é a convulsão

Da boba e alegre solidão.

Até a caridade é remota,

Mas essa, contanto que tenha holofotes,

Se diz ser remotamente brilhante.

O heroísmo é remoto

A velhacaria também.

Remota construção social: tudo no botão!

Hoje,

nem remotamente se enxerga o verdadeiro herói.

Há que se ter lupas bem presenciais

às atitudes essenciais.

Não há como se tangenciar digitais

Na remota essência do toque.

O amor já não se auto identifica no botão do controle.

Toque remoto,abraço remoto,remotas fusões

Só representações, não há texturas.

Amor remoto? Ou remoto amor?

Quem saberia sentir?

Mais um vírus foi acionado remotamente

Para a remota consciência das dores.

E de lá para cá a Humanidade foi coroada

A se perceber súdita de si mesma.

Que pífia e remota essa coroa...a dos Homens.

Se até os remotos gafanhotos fazem remotos reinados?

Remotamente,talvez

Tenha chegado o tempo dum verso a distância:

Remoto remédio.

Onde a justiça é remota...a paz já é derrota.

E eu ainda ouso diagnosticar presencialmente:

Em tempos de remotos diagnósticos!!

Poesia é coragem.

Hoje a cura é tão remota quanto a própria existência.