TRIVIAL

Fagocitei-me
No gesto da mão estendida
Que não fiz.
Na abraço apertado
Cheio de saudades
Que não dei
E nos perfumes
Que esqueci de sentir.

Fiquei perdido
Nas conversas leves
Sem pretensões
Sobre o vizinho
Sobre um filme qualquer,
Por não entender
Que não era ele, nem o filme,
Na verdade o mais importante
Era o tempo da conversa.

Na varanda
Já sem muito entusiasmo
Balanço-me na cadeira
Sem pressa
E sinto a ausência
De tudo que não fiz.
Do seu rosto
Colado ao meu
E da dança suave
Que nunca aconteceu.

Enchi-me de coisas importantes
De pessoas soberbas
De planos mirabolantes
E estou vazio
Das trivialidades da vida.

Essa ausência
Tão simples
Tão fácil
Tão ao meu alcance
É o que me enche agora

O tempo passa calmo
Na brisa que me toca
Sentado na cadeira
De balanço na varanda
E essas ausências
Vão me consumindo.