Roupinha

Oh, como senti pena de ti, roupinha. Mesmo comprada por um alto preço, em curto tempo, serás totalmente esquecida. Não te restará o cabide velho, nem ao menos o lugar mais sem vida de um guarda roupa. 

Amanhã encontrar-se nos mais belos álbuns e nas grandes redes sociais, contudo, quando teu brilho passar e o vizinho esbanjar o mais novo modelo, tu serás abandonada. E o que restará de ti? Transformada primeiro em roupa para dormir e logo após em pano de chão? Eles não lembrarão de sua elegância, quando te usar para limpar o xixi dos animais. Roupinha, nós humanos vamos te usar e quando seu crédito zerar, talvez como uma promoção daremos-te para um parente, do que adianta isso? Teu final é o mesmo.

Oh, como senti pena de ti, roupinha. Com dor, informo seu destino. Contudo para consolá-la, digo que nós humanos temos uma semelhança contigo, estamos fadados a um destino parecido, talvez idênticos. Quando envelhecemos, somos abandonados. Nosso valor é reduzido a nada. Vocês são jogadas na masmorra do chão. Quanto a nós, a existência passa a pesar, e como se não bastasse, vamos para um asilo da terceira idade. Assim como você roupinha, perdemos o brilho e as rugas se tornam avassaladoras. 

Roupinha, talvez por tamanha semelhança, digo estas palavras. Quer um conselho? Goze dos momentos em que o sabão dança sobre seu tecido. Aproveite os pingos do perfume que caem sobre ti e quando seu dono ouvir o som daquela linda canção e lembrar de sua exata cor, brilhante, sobre o corpo da pessoa em que ele ama, chore de alegria. Desfrute ao máximo e quando seu dono decidir te passar, é porque ele ainda se importa. 

O fim chega para todos, minha Roupinha. Por isso te mostro como serão seus últimos dias. Da mais bela roupa ou do mais belo homem, não há como fugir, não há escapatória, o desfecho vem. Hoje te compro, amanhã te usarei e certamente depois de amanhã, entretanto, breve não te usarei.

Quer mais uma semelhança? Hoje eu vivo, amanhã tenho vigor e provavelmente depois de amanhã, terei, porém, em curto tempo estarei embaixo do solo e você no aterro sanitário.

DaviCampos
Enviado por DaviCampos em 23/06/2020
Reeditado em 25/02/2021
Código do texto: T6986117
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