O Incêndio das Nuvens

Se me crês dia

É porque não me sabes noite

Minhas muitas águas, não as revelo

Subterrâneas, não correm a lugar algum

Estanques, não buscam mar

Apenas são em mim tempestade

Empurram

Aos ventos e ondas

Minhas caravelas às Índias da vida

Se te pareço tropical

Saiba-me mata fechada

Inacessível

Meu Eldorado não reluz

Porque meu ouro é ar

É verbo

Minha lavra é lava

Escava meu peito

Nas veias corre

Escorre em poemas

Cheios de sujeitos ocultos

Que nunca entenderás

Se me pensas Sol

Não me conheces luar

Em noite oculta

Sou Santelmo

Céu cravejado de luz

Vento frio

Trovões e fúria

Sem que sintas a mais leve brisa

Às margens do mar

Pareço-te vida

Não me ouves morte

Em adornos coloridos

De fitas púrpuras

Entreguei-me ao abismo

Traguei do inferno o enxofre

E voltei para semear minhas flores

Pelos canteiros do mundo

Se me percebes luz

Não me viste sombra

Sou bom ocultador

E nem que eu fosse pétalas todos os dias

Tu me verias flor

Meu fogo queima calado

E a tudo consome

Silente

Já incendiei todas as nuvens do meu céu

Murilo Laredo
Enviado por Murilo Laredo em 16/06/2020
Código do texto: T6979185
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