O Incêndio das Nuvens
Se me crês dia
É porque não me sabes noite
Minhas muitas águas, não as revelo
Subterrâneas, não correm a lugar algum
Estanques, não buscam mar
Apenas são em mim tempestade
Empurram
Aos ventos e ondas
Minhas caravelas às Índias da vida
Se te pareço tropical
Saiba-me mata fechada
Inacessível
Meu Eldorado não reluz
Porque meu ouro é ar
É verbo
Minha lavra é lava
Escava meu peito
Nas veias corre
Escorre em poemas
Cheios de sujeitos ocultos
Que nunca entenderás
Se me pensas Sol
Não me conheces luar
Em noite oculta
Sou Santelmo
Céu cravejado de luz
Vento frio
Trovões e fúria
Sem que sintas a mais leve brisa
Às margens do mar
Pareço-te vida
Não me ouves morte
Em adornos coloridos
De fitas púrpuras
Entreguei-me ao abismo
Traguei do inferno o enxofre
E voltei para semear minhas flores
Pelos canteiros do mundo
Se me percebes luz
Não me viste sombra
Sou bom ocultador
E nem que eu fosse pétalas todos os dias
Tu me verias flor
Meu fogo queima calado
E a tudo consome
Silente
Já incendiei todas as nuvens do meu céu