Meia Noite
Meia Noite
Alexandre Santos*
Atrás, o ontem
a frente, o amanhã
atrás, o passado
a frente, o porvir
atrás, lembranças
a frente, esperanças
Confluência de emoções,
palco de encontros mágicos de copos e tragos,
unindo boêmios insones e varões nostálgicos
que desafiam o tempo do recolhimento,
mergulhando na madrugada
para desvendar segredos, arrancar suspiros e espalhar saudades
Musa permeável, sempre úmida pelo orvalho que ainda não caiu,
se deixa atravessar
por homens e mulheres,
gemidos e sonhos,
acolhendo todos e tudo, num sedutor afago
Espaço generoso,
da vida e da morte,
do azar e da sorte,
encontros e desencontros,
aventuras e desventuras
Inflexão entre o ontem e o hoje,
antessala do amanhã,
testemunha do novo dia
que rasga a noite
rumo à luz de uma nova manhã
Hora mágica e mística, porta-bandeira de limites
que assustam cinderelas obedientes,
perturbam mães contentes,
alertam pais impacientes e
desencantam príncipes indecentes
No céu, constelações cintilantes enfeitam a vida
nas ruas, moças ousadas correm na caça de presas surpresas,
nas camas, corpos ardentes arfam cansaços do amor e paixão
nos bares, homens trôpegos erguem brindes à noite sempre menina
Palco da estrela que brilha a luz encantada
que se derrama sobre todos
animando os amantes sonâmbulos
confortando os solitários errantes
dando vida às vontades secretas
Hora sem fim,
a meia noite nunca para, pois
sem querer perdê-la de vista
a Terra gira, levando-a consigo
e, com ela, estrelas, vontades e sonhos
Meia noite,
experiências múltiplas
de silêncio e paz para o sono,
música, luz e cor para a festa,
inspiração para o mistério
Momento para o qual convergem,
sem lutas,
romances e disputas,
silêncios e sons,
trevas e luz
Fronteira de iguais,
que separa o todo do tudo,
o nada do nada,
abrindo uma porta para o infinito,
um caminho para a eternidade
(*) Alexandre Santos é presidente do Clube de Engenharia de Pernambuco, ex presidente da União Brasileira de Escritores (UBE) e coordenador nacional da Câmara Brasileira de Desenvolvimento Cultural