Para Além do Caos

Talvez a coisa mais assustadora

Depois de séculos cantando sobre o Caos

Seja supor que não preciso dele

Nem para amar, nem para ser poeta

Nem para viver uma vida cheia de brilho

Talvez a coisa mais estranha

Depois de séculos fazendo banquetes com meus monstros

Seja parar de alimentá-los com sangue

E perceber que podem se tornar inofensivos gatinhos

Se eu lhes fizer beber uma taça cristalina de paz de espírito

Talvez a coisa mais pesada

Depois de séculos de batalhas infindáveis

Seja largar a espada repleta de marcas

E entender que existem meios mais gentis

De conquistar as coisas que realmente importam

Talvez a coisa mais dolorosa

Seja sair das sombras onde escondi todos os meus mistérios

E onde me diverti com todas coisas profanas que não vêm à luz

Para amar alguém a quem eu possa olhar nos olhos

Por quem eu não precise entrar em guerra com todo o Universo

Talvez a coisa mais complexa

Seja encontrar aventuras épicas pintadas de outras cores

Que contenham todo o arco-íris, e não apenas vermelho e cinza

Acreditar que ser sincera e abraçar o mundo

Pode ser mais eficaz do que todas as estratégias maquiavélicas que um dia joguei tão bem

E talvez a coisa mais incrível

Seja descobrir que nem tudo o que é bom precisa acabar

Que nem tudo é bom porque precisa acabar

Um abraço caloroso ou um beijo intenso podem durar para sempre

Ou se repetir de mil maneiras diferentes em direção à eternidade

Se ao menos eu puder parar de flertar com o Caos

E encontrar uma aventura que termine com o tipo certo de incêndio

Dia 77 da Quarentena