À DERIVA - Luiz Poeta - Luiz Gilberto de Barros

À DERIVA - Luiz Poeta - Luiz Gilberto de Barros

Quem me deixa à deriva, desconhece

Que meu barco é movido a sentimentos

Pois meus sonhos, toda vez que a maré cresce,

Agradecem ao poder feliz dos ventos.

Mesmo que a dor me exponha ao relento,

Movimento o meu amor com a fantasia

E é assim que sobrevivo : eu me alimento

Do momento que alimenta a poesia.

A magia de quem sofre e faz sua parte

Vem da arte que se despe da moldura,

Pois nem mesmo um folhetim é um encarte

Para a arte que se esculpe com ternura.

Só quem sabe repintar-se com nobreza,

Vê beleza em cada riso que se doa

E se um riso é feliz por natureza,

Num sorriso, a alegria empluma... e voa.

Num rabisco inusitado, a parceria

Que há com Deus, mais espontânea se revela...

É assim que Ele desenha a fantasia

Da poesia a que harmoniza a cor da tela.

Só quem tem dom de amar e trascrevê-lo

Faz quem lê-lo, transportar-se e compreender

Que a linha solitária de um novelo

Só termina, quando quem sabe tecer

Abençoa o terno olhar embevecido

De quem vê, num simples risco de um bordado,

A ternura que repousa num tecido

Construído com amor, luz e cuidado.

Quem me deixa à deriva, não me deixa,

Alimenta minha eterna inspiração,

Porque, quando minha emoção se queixa,

Ela deixa tão triste meu coração...

Que até mesmo a invenção de alguma gueixa,

Complementa minha dor de solidão.

Quem me deixa, nunca foi meu par perfeito,

Não me deito com olhares insensíveis...

Conteúdos sempre têm algum defeito

E os defeitos também são imprevisíveis...

Meu navio só precisa de um motor:

É o amor que ainda tens para me dar

E se amar é recriar um sonhador,

Deixa ao menos, pelo menos, eu te amar.

- Às 19h e 19 min do dia 24 de maio de 2020 do Rio de Janeiro - registrado no Recanto das Letras.

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LUIZ POETA
Enviado por LUIZ POETA em 24/05/2020
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