Foi-se o tempo (sob o olhar de garrafas e latas)
Foi-se o tempo em que bebia por três dias seguidos
dormia uma noite e acordava na manhã seguinte
belo e renovado feito o cavalo de Clarice.
Tempo em que ao invés de fingir ir ao banheiro
e sair pelos fundos, erguia a mão e pedia:
traz mais uma, gente boa.
Foram bons tempos, mas eu não tinha direção
achava que tinha saúde e um fígado revestido em aço.
Agora olho a garrafa de vinho e latas de cerveja
na geladeira e penso quanto tempo ficarão ali
a espreitar minha boca com sua lascívia.
O impasse permanece e ao secá-las, percebo
que nem deveria tê-las tirado da prateleira no mercado.
Minhas ressacas são cruéis. Minhas enxaquecas
São suicidas. Sinto calafrios o tempo todo
sudoreses medonhas ensopam minha cama
e tudo à minha frente parece a puta com a foice.
Não queria voltar aos bons tempos
mas gostaria de um pouco de paz entre o último copo
e a ressaca. Mereço por ter sido fiel aos rituais
mereço pela devoção ao prazer etílico.
Por enquanto vou secar minha garrafa
a um copo por dia, ou por semana, conforme
a disposição do meu fígado.
As coisas não são mais como eram
e isso não deveria ser uma triste realidade.