Missão cumprida
Tenho me sentido já há tempos
Como se andasse sempre dormente
O que pode ser mecanismo de defesa
Contra o mundo, literalmente.
Já faz meses que a vida
Anda muito maltratada
Uma surra atrás da outra
Mas eu sigo anestesiada.
Não, eu não estou alheia
A tamanha gravidade
Sei o quanto é difícil
Encarar a realidade.
Mas eu tenho me embebedado
Praticamente todo dia
Pra manter a sobrevida
E disfarçar a agonia.
Me afogo nessas rimas
Busco beleza onde não há
A cada copo de poesia
Sinto a mente serena ficar.
Como músicos do Titanic
Numa simples analogia
No desespero de quem tocava
Tanta poesia existia!
Cada acorde era um suspiro
Da vida que se esvaía
Como se a morte doesse menos
Se acompanhada de poesia.
Se minha dor é a do outro
E sinto pouco poder fazer
Que eu faça ao menos poesia
Pra alma não adoecer.
E se minha rima alcança o outro
Dou por cumprida a nobre missão
De tocar onde mãos não alcançam
Quem sabe aquecendo seu coração.