Dente de leão

Recolho sua delicadeza em meus dedais. 
Não permito que o vento a leve para longe, que se perca no ar.
Mas depositar sua leveza aqui não garante a felicidade. 
Na vida não há garantias, a não ser a morte.

Deixo sua singela presença na janela.
Pode o vento lhe roubar de mim?
Meus dedais não são gaiolas.
Estão sempre com o bocal para cima.
Já recolheram até chuva, que eram lágrimas de além mar.

Caso eu volte e não lhe encontre, tudo bem. 
Guardarei o dedal bem perto de mim. 
Ele é depositário de histórias, assim como o peito meu.

Hoje o dia promete, pois ontem choveu.
Os dentes de leão se soltam depois de secos.
Talvez voem até o dedal da janela.

Lembre-se, ele já acolheu o choro seu!