Lápide
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Lápide
Sei que - por Deus! - morrerei.
Se tu também partirás,
por que fugimos tanto?
A morte é certa, eu sei.
Um dia nos levará...
Só não quero o infindável pranto.
Que fique a saudade, apenas.
Do que fui, fiz e deixei.
Fui um curioso audaz
- Temi apenas o erro, pequei.
Fiz travessuras, amei
- Peço perdão,
não fiz por maldade.
Deixei livros e raízes;
deixei gratidão, bondade e dúvidas.
Vivi, todavia, intensamente.
Tive a honra de salvar.
Ensinei, compus, fiz versos...
Andei, corri, surfei, voei.
Chorei, sorri, acreditei, venci.
Até que, todos sabemos,
tive que partir.
Mas ainda não morri,
existe a vida póstuma!
Faço convites, vários:
leia meus livros;
escute minhas composições.
Em meus versos,
estão meus desabafos,
medos, confissões.
Em vida,
fui péssimo marqueteiro...
Mas as cinzas sepulcrais
fazem cócegas na imaginação,
pedindo olhares.
Não me deixem morrer!