Em mim
Não foi assim que vim
Nem mesmo decidi vir a estar
Ou pertencer àquilo que me rodeia
Posta a encarar dias imensamente azuis
Talvez borrados, sob o rascunho, de tons pastéis
As expressões não foram, sempre, as mesmas
Linhas refeitas, ainda mais enfáticas pelo tempo
Obra pungente do templo inestético da vida
Súbitos voos me refizeram
Longas remadas me levaram
Precisei ir distante, aos aléns da minha saudade
Para pousar, enfim, sobre a minha existência
Acalmando o turbulento irreconhecimento
Como mísero broto na espinha da alma
- carrego, exaurida, o cansaço diário -
Não tive qualquer anunciação
De que me caberia esta rotina
Estes gestos, estes dizeres
Estas formas geométricas do incompensável
Do meu reflexo distorcido no espelho
- Quem é esta mulher?
Quem mais, além de tantas que fui e serei,
Poderia ser?
Vejo variações do que não foi pedido
Não me dei por isso
Eu não pude enxergar a minha chegada
Nunca, jamais
Para sempre, o meu bastante
Ou quase
Tão duvidoso, tão preciso:
- Em que momento eu me dei
Por mim, senão agora?