O que seria de mim
O que seria de mim
Sem as asas que eu não tenho
Tenho o jeito de desleixo
Lixo acumulado no varal
Oh, tempo, tempo
Por que são tão rudes tuas querências
Matas-me assim, lento ou rápido
Um cheiro que não é de jasmim
É só o ocre do cobre
Lambendo as ruas de algazarra
Ai meu poema
É duro atravessar a rua
Olhar nos olhos
Do inimigo com gosto de hortelã
O que sei eu da vida afinal
Vi minha vó varrendo o quintal
Um tiro furando, de Lampião, o bornal
Vi tudo e nada num cortejo de ilusão
Um anão com cabeça de gigante
Ostras frescas lambendo sabão
O poema, esse concreto
Overdose de sintaxe
Brilho no olho
O poeta, esse que passa
Quem sabe quantos versos
Faltam para o poema final?