MORTALHA DE PEREGRINO
MORTALHA DE PEREGRINO
BETO MACHADO
É cedo ainda
Pra pintar, com cores
D’arrogância e do orgulho,
Os feitos e as falas
Do meu pobre ego.
E, dessa defesa árdua,
Eu mesmo me encarrego,
No afã de desfazer
O que não é.
Pois minha bala clava
É a minha fé.
Pés na Terra;
Pensamento no Divino;
Os ditames Dele vou seguindo,
No limite dos mortais.
E até que finde a empreitada,
De eu carregar minha vida
No colo, por longa estrada,
Vou alimentando esse gosto
De alcançar o meu destino,
Sem calçados, sem chapéu.
Mortalha de peregrino
Embalar-me-á pro Céu.