SETENTA VEZES SETE

SETENTA VEZES SETE

Cresci entre morcegos

Que sugavam sapotis

Entre demos infectados

Pelo vírus da falsidade

Minha mãe dizia amável

Enquanto passava a mão

Afável mente sobre minha

Cabeça desprotegida:

“Você é o bode expiatório

De toda nossa família, ouviu”?

Vendo minha mágoa e agonia

Ela também repetia a dizer:

“Toda família tem, meu filho

Um cordeiro do sacrifício

Nesta, é você quem deve

Sacrificar-se por seus irmãos”

Eu criança questionava angustiado

A perversa sordidez da mulher mãe

Como podia ela jogar com convicção

Meu futuro e sonhos em outras mãos?

Lançar-me na jaula das hienas

Da faminta irmandade e gostar

De me condenar pela vida afora

Ser devorado pela fúria de leões?

Como poderia ela então

Se não fosse bruxa velha

Fazer-me renunciar à vida

Sem livre arbítrio, sem paixão?

E ainda abraçar como amiga

A triste aridez da aflição?

Quem era aquela mulher

Que se dizia minha mãe?

Ela me fez prometer

Gostar de ser seu escravo

E prender a minha alma

Naquele pó amarelado

De sua mão sinistra soprou em mim

Em minhas faces atônitas e magras

Senti adormecer o desejo pelo futuro

Sonhos e ânsias mergulharam no escuro

As trevas ganharam minha mente

A centelha da infinita indignação

Apoderou-se de minha essência pasma

O desafio íngreme de lutar por liberdade

Rivalizar contra exércitos de bestas

Que teria de vencer sem saber como

Fechar o portal por ela aberto delas

À invasão ávida por devorar minha alma

Por vezes ficava a pensar

No que poderia realizar

Se minha força e energia

Tivesse eu canalizado

Ao invés de vencer vampiros

Morcegos e seres satanizados

Houvesse meu tempo dedicado

À realidade de sonhos refutados

Quanto perdão fora necessário

Quantas vezes precisei perdoar

Sete vezes, Senhor, ou setenta?

Setenta vezes sete

Quantas precisei jogar caxangá

Conduzir as sementes

Na mata extensa de cimento

Armado apenas da jangada

Caminhei sobre as águas

Como se fosse escravo de Jó

A forjar zigue-zagues-zás

Quem ouviria meu lamento

Ou me veria caminhar

Os passos do Guerreiro

Solidário companheiro do mar.

(P.S: VISUALIZE NO FACE)

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 19/04/2020
Reeditado em 10/05/2020
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