Não Quero Terra Firme Se Posso Voar
Tenho dormido e pensado
Todas as feridas abertas
Já não colho sonhos não lembrados
pois seriam apenas suposições incertas
como batidas na porta aberta, vista
através do vão do vagão descarrilhado,
sem ninguém lhe ter controlado.
Caminhei e vaguei por trilhos trocados
e lá ninguém me beijou na boca
para me despertar do sono profundo,
na viagem da alma alada pelo mundo.
Melhor assim. Não quero terra firme
se posso voar. Prefiro ter o abraço
do vento a me carregar pra longe
que viver pra sempre num mesmo lugar.
Pergunto quem hoje sou, porque não
me reconheço mais depois de tantas
partidas perdidas nesse jogo de fugas
por entre mundos amiúde visitados.
Mas não conto os destinos ignorados,
relegados a planos passados, pois neles
não havia mesmo ninguém a me esperar
Talvez viaje pro México e consiga invadir
uma das suas pirâmides e lá me entocar.
Ou para um lugar mais aberto me evadir,
um lugar que não permita a multidão
me notar, mesmo no meio da densa solidão.
Talvez encontre um portal para Nárnia
Este sim, seria um bom lugar:
viveria um dia inteiro de nada se faz,
tomaria um fresco e quente café,
e deitaria a ler meu Drummond em paz.
Por ora, preciso acordar.