ANDARILHO
Andarilho, cabisbaixo,
minha linha do horizonte
é a calçada
e com passos de balé
com meus pés toco o chão,
equilibrista na corda bamba
da linha do meu horizonte
calçada!
Andarilho, me quero solitário
na minha solitária liberdade,
alucinado,
sentindo todo o meu ser
na ilegalidade, um pária,
sem registro de CPF ou RG,
e não sendo número, me nomeio,
meu nome é meu nome,
não rastreável no tempo e espaço!
Andarilho, cabisbaixo,
minha linha do horizonte
é a calçada,
e na ilegalidade da liberdade,
declamo versos, versos e versos
de uma poesia improvisada
que nunca será escrita,
e levada pelo vento que sopra,
para só Deus sabe aonde,
se não for Deus o destinatário!
Na realidade, pouco me importa,
só a calçada,
linha do horizonte que piso
e andarilho, cabisbaixo, decifro
segredos indecifráveis!
Andarilho, cabisbaixo,
na linha do horizonte que piso,
calçada,
atentamente ouço o som,
o som, como de um coro de anjos,
do solo da guitarra de Hendrix,
e vislumbro a possibilidade de ser,
libertado do enfadonho incômodo,
de ter sempre que ser feliz!
Andarilho, cabisbaixo,
pouco me importando a rima,
vagabundeio preguiçoso,
da preguiça de Macunaima,
na linha do meu horizonte
calçada,
improvisando versos, versos e versos
ao som da guitarra de Hendrix,
sentindo, andarilha, a alma libertada!