CANTO DE SEREIA
Quando criança, meninote ainda,
na areia a beira mar,
sentia nos pés as ondas
que iam e vinham!
Quando criança, meninote ainda,
olhava admirado o horizonte
certo que ali, naquela linha,
céu e mar se encontravam!
Quando criança, meninote ainda,
sem perda de tempo, me perdia no tempo,
não sabia que o tempo passava,
e que passando o tempo, só resta o passado!
Hoje, gente grande, aquele meninote,
sentado na areia a beira mar,
sabe que o mar é somente mar,
e que lá, na linha do horizonte,
céu e mar nunca se encontraram,
sabe que o mar ultrapassa o horizonte
se tornando oceano, Atlântico oceano!
Hoje, gente grande, aquele meninote,
pensa em Ulisses, preso ao mastro, alucinado,
ouvindo o canto encantado das sereias,
e se lembra do canto da sereia
de cada mulher, que alucinado amou!
Hoje, gente grande, aquele meninote,
olha o horizonte com curiosidade,
compreendendo que todas minhas sereias
nunca habitaram mar algum,
mas eram, elas todas, sereias da cidade!