A vida nos confinou
A vida nos exigiu isolamento,
A vida nos deixou embrulhados dentro de nós mesmos.
E acabei por descobrir meus versos esquecidos.
Estavam todos ali, a esperar por mim.
Adormecidos, cansados de não serem vistos, de não serem ouvidos.
Tanta correria, tantos beijos rápidos e superficiais,
Tantos cafés pequenos! Tantas tarefas.
Tantas pessoas dividindo espaços nos coletivos, tão individuais.
Tanta solidão atravessando a multidão todos os dias...
E agora, se é para ficar só. Que seja sozinho de verdade.
Sem a exigência de máscaras, para expressar uma felicidade normal.
Já que nos conglomerados de pessoas sozinhas, se vende felicidade, se compra felicidade e se exige felicidade.
Fomos confinados, quem sabe, assim, podemos nos olhar em nossos próprios olhos por mais de dois segundos breves.
Quem sabe assim, podemos tomar um café mais estendido e perceber que a casa em que moramos é parte de nós...
Pra mim, a vida queria me contar um segredo que não poderia dizer diante da multidão de todos os dias.
Me mostrou livros que empoeiravam em minha estante por anos sem serem tocados a espera eterna de um tempinho de sobra.
Não me iludo, achando que as multidões não perpassarão as telas e telinhas que nos roubam a comunhão.
Mas isso também me faz pensar no quanto desejamos estar sós, o quando temos pedido por relações virtuais, a vida está nos dando esse presente, precisamos desembrulha-lo e fazer o melhor uso que pudermos.