Improviso
A vida não é improviso do acaso.
As dores.
As carências.
Os erros e equívocos.
As mágoas e os misteriosos silêncios
Que adormecem entre prateleiras.
Ao retirar o pó.
Ao retirar os ácaros.
Ao limpar o tangível.
Resta a alma poluta
no lamaçal das lembranças.
A alma que nos guia entre desertos.
Entre penúrias e fiascos.
Resta a alma inscrita no corpo.
Esculpida entre tosse, espirro e escarro.
Entre secreções.
Entre segredos insondáveis.
Entre o visível e o invisível.
Impromptu
Na escala ascendente que insiste nos bemóis
Ou na descendente que tropeça nos sustenidos
Como se gagajasse na récita do poema.
Nem sempre existirão rimas.
Nem sempre existirão pares.
Nem sempre existirão sombras
E o oásis.
As agruras sorvidas são aprendizagens.
Regadas por lágrimas e
sepultadas em paixões frustradas.
Minha paixão pela luz,
pela razão cartesiana,
pelos paradoxos paralelos e latentes,
pelos questionamentos que jamais
ousamos responder.
Impromptu
Uma maratona de ideias
para descansar na maturidade
de nervos retesados.
Tudo é improviso
pois definitiva é apenas a morte.