O Silêncio Permitiu


A chuva cai fina e ritmada nos telhados e toldos de acrílico.
É bonita a música que resulta desse ritmo
ora regular, ora irregular, mas sem pausas,
o que faz a harmonia da melodia soar como infinita.

Em tempos de reclusão, forçada ou voluntária,
a chuva fina é um acalanto suave.
Parece chegar para lavar os tempos ruins, esquecer
dificuldades e tristezas, dar um novo alento de paz.

Quisera tudo fosse assim tão simples
como a chuva fina que cai, lava e acalma.

Quisera que as águas que lavam mãos levassem embora
o mal que habita tantos nesse mundo.
Levassem embora o mal desses que esqueceram o mundo.
Desses que perderam valores de humanidade e civilidade
e que chamamos gestores dos mundos todos.

É dia e há silêncio em tudo.
Quatro paredes em todos os cantos abrigam bons e maus,
bem e mal, sãos e não sãos - quando lhes é permitido,
porque há também os miseráveis
que nem de quatro paredes dispõem
porque nada se lhes dá, nada lhes é permitido.

Quando chegar a noite o silêncio se tornará ainda maior.
Inacreditável que grandes metrópoles estejam tão silenciosas.
Todos buscaram o retorno ao necessário,
ao essencial.

A fantasia, assim designada por muitos,
se revelou uma realidade cruel,
ditadora das regras,
mandando que todos se calassem
e aquietassem declarando ser
a líder de tudo nesses tempos sombrios.

Por isso é possível ouvir os ruídos musicais da chuva fina.

O silêncio permitiu.



 
Marise Castro
Enviado por Marise Castro em 21/03/2020
Reeditado em 29/11/2020
Código do texto: T6893039
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