A Fábula da Volta da Ararinha Azul

Era uma tarde em janeiro

Lá no velho continente,

Uma cacatua inocente

Chegava ao lindo viveiro,

Grasnando pelo poleiro

Começa a conversa rara

Com uma pequena arara;

Matraqueia a cacatua,

Cujo reflexo insinua

A um albornoz no Saara.

A cacatua narrou

Com olhar triste e saudoso

Que um incêndio impiedoso

Devastara onde morou,

Então, o humano a salvou,

trancando numa prisão...

-Não entendo a compaixão

Da chamada humana raça,

Que ora salva, ora amordaça

Com tamanha indecisão.

Enfim a ararinha-azul

Expondo o seu regougar,

-Eu sonho com um lugar

Fincado ao hemisfério Sul

Cujo céu, és sempre azul,

As nuvens... jamais sombrias,

Nem tens as geadas frias,

Nem a manhã és cinzenta,

Aqui a primavera ostenta

Eternas melancolias.

-Foi por um antepassado

Que destrincho o antigo lar

Ao Vale do Curaçá,

Voava pra todo lado...

Mas, que ficou no passado

A revoada campeira...

Do Angico a Quixabeira,

Da Aroeira, ao Imbuzeiro,

Do Mulungu ao Pereiro

Da Braúna a Craibeira.

-A chuva que traz a lama

És a mesma que floresce,

Tem o brado que emudece

És ao frio que faz-se a chama,

A cacatua conclama...

-Privaram-te à natureza!

Talvez, por tanta beleza!?

Por ser bela, há de voltar!

Foi isso o que ouvi falar,

Do avaro fez-se a nobreza.

Com isso a triste ararinha

Esboça um sorriso anil,

Vou-me embora pro Brasil

Vou voar como andorinha,

Vou cantar a canarinha,

Vou flertar maracanã,

Vou brincar com jaçanã,

E azularei d’esperança

O educar da criança

O preservar do amanhã...