ANTES DE PRECISAR ALMA
Existe um oculto sagrado livro, cujas folhas não podem ser viradas,
nem a direita nem a esquerda; somente ser interpretado
em letra adámica, hebraica, caldeia...
Ao ouvido, na penumbra,
para de seu resplendor o amor ser sussurrado
Enquanto uma voz que retrai fala no infinito desde o ilimitado.
Os reis dos tempos antigos
que viveram no ancestral caos, desequilibrados,
contemplavam suas páginas caídas
como folhas de choupo no inverno, pelo chão abismal espalhadas.
Lendo seus carateres de luz, lentamente sobre a varanda,
lamentavelmente à inversa, tudo por eles fora mal interpretando.
Dizem que desde um ponto raiz
o livro aclara como o todo dentro do todo surgiu
e a carne, posteriormente manifestada,
por um cúmulo de desejos ao inferior (inferno) foi arrastada.
Por trás, ecoando, afirma-se o Ilimitado som
corando um verbo, antes de ser iniciado,
para exalar duma essência o necessário.
A partir de Ela, produzidos são
(ao ouvido interno o livro argumenta)
todas as mundanais mudanças
como vestes dum velho senhor, pelo pé direito pisadas.
Com o esquerdo no Templo adentrando-se
Naquela forma Negativa, que o livro minuciosamente descreve,
o Universo interior deveu tirar, a forma de vir, retornar
adscrita a uma primordial carência ideada.
Dentro da qual, por Lei, um equinócio em seu solstício adensava,
de um sol que começava a nascer, do seu círculo interno manifestado.
Falam que como matriz, o equilibro neutro adormecido ficou
em seu ventre primordial, lunar, a espera de serem acordado.
Como estela para a qual, tudo tende a ajuntar-se
no final da mais longa das caminhadas
Diz, que essa leve calma, paz interior, sonhada
sem remédio sempre nos alcança
quando no Fim dos Tempos Chegados a redenção
seja por todo o conjunto, no seu coração coletivo aclamada.
O livro ninguém ainda encontrou, tal vez nunca seja ensinado,
dele no entanto, sem saber, oculto também, toda gente fala;
pois dizem nossa é sua voz
por ele representarem o verbo com que conjugamos
tanto o ódio como o amor
tanto a paz como a ignorância
Falam também que o livro está em nosso coração
mais poucos sabem abrir sua tampa, passar sua mão delicada
pelas folhas eternas da sua primordial ensinança