A morena e a borboleta

Estava eu a andar sem rumo,

Pensando numa forma de por a vida a prumo.

Foi quando a vi passar na minha calçada,

E não mais consegui pensar em nada.

Eu, que andava todo cismado,

Atormentado, com tanto pensamento embaralhado,

Já nem mais lembrava o que é que me amolava,

O que por tantas noites meu sono tirava.

Que descomunal beleza carregas!

Foi te ver e foram embora todas aquelas trevas.

Tiraste-me um peso, desanuviou minha alma,

De súbito, me trouxestes calma.

Ela andava em reta, ereta,

Fitando a linha que separa o céu da terra.

Não desviou o olhar enquanto me passava,

Nem percebeu que eu a admirava.

Com seus cabelos negros como a noite mais densa,

Afastou-se, sem diminuir o passo

Fez pouco de mim e da minha querença.

Enquanto me fitava a borboleta negra tatuada no seu braço.

Cada suspiro meu ela ignorava

Enquanto o rastro do seu perfume eu tragava.

Tentava eu absorver-lhe a essência,

E de mim ela nem tomou ciência.

Nem seu nome eu perguntei,

Nem um ‘bom dia’ eu ousei.

Só agradeci pelo perfume,

Sem ter minha voz qualquer volume.

Vá-te, então, escultural morena!

Nega-me o sorriso, nem mesmo me acena,

Já me destes o que eu mais queria,

Que era livrar-me dessa minha desarmonia.

Dom Peyote
Enviado por Dom Peyote em 13/03/2020
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