LOUVAÇÃO E FALÁCIAS

“A arte existe porque a vida não basta”. Ferreira Gullar.

A insônia é um mórbido estorvo

persigo o alter ego entre palavras e

o zumbido dos mosquitos.

Ambos cumprimos um duo triste

na veraz sina de não soçobrar.

Destilamo-nos entre o aço e o abraço

a breve sombra e a cansativa

louvação da sobrevivência.

Trevas silentes, sonhos zunem ilimitados

vaga-lumes azoam abissais limites

sons concessivos, calcinados voos.

Impotente, assisto à safra indomável das larvas:

ajustar ideias sobre os signos, nus esqueletos.

A sorte alça voo aos trôpegos silêncios

lavra a mão avara e sopra a dura falácia

a fruir-se viva entre músculos e ossos.

A madrugada é um estorvo mórbido

a moer a chancela aberta ao poema.

– Do livro inédito A VERTENTE INSENSATA, 2017/2020; poema revisado.

https://www.recantodasletras.com.br/poesias-de-reflexao/6885941