REFLEXO DE BOBO

I

Estava o pobre coitado,

Mirando extasiado

A formosa fonte!

Ela deixou-se

Educadamente admirar!

O jovem feio, desajeitado!

Que entretanto ,

Achava-se lindo:

Elegante, simpático,

Inteligente e educado,

Não se fez de rogado,

E nem procurou disfarçar

O orgulho no rosto estampado,

E estufando o peito,

Sorrindo exclamou bestificado:

Sou divino!

Como sou belo!

Além de encantador,

Gênio sou!

Tudo passa após mim:

Terra, céus e mares!

Não há, em todo o universo,

Alguém tão bonito

E com tanta sapiência como eu!

Não, não há!

Sou o capitulo final da beleza

E da inteligência!

Tudo passa após mim!

II

A fonte fitou-o pasma!

E balançando a cabeça

Num gesto de pouco caso, sorriu:

Meu amigo, como és louco!

Quanta barbaridade!

Pensas tu, que és belo?!

Como tenho dó de ti!

Nunca reparaste, na feiura

Que te transfigura a face?

Pobre visionário,

Achas pouco, tanta bobagem?!

E ainda queres dar

Uma de sabidão.

Pensas que sabes tudo,

Que entendes de tudo,

Até das coisas de Deus!

No fundo bestão,

Nada sabes!

Faz um rio correr pra trás!

Mira-te no espelho que verás:

Teu reflexo de bobo!

Assim são todos que tentam

De Deus – conhecer a verdade!

JUCKLITO DE ITABUNA
Enviado por JUCKLITO DE ITABUNA em 10/03/2020
Código do texto: T6884650
Classificação de conteúdo: seguro