O lamentável costume de ser.

Esse lamentável costume de viver, habituei-me, foi à única forma que tive para poder existir.

Vivendo acostumei-me, tive que acostumar, não se tinha outra perspectiva.

Faltou-me perspicácia, se acontecer outra implosão quero nascer na Dinamarca, cansei desse lado de cá.

Essa coisa de ser tupiniquim, horrível para minha epistemologização.

Tornei-me, naturalmente, o jeito de ser, a forma de viver, sem saber.

De algum modo fui indo, eu tive que ir.

Entretanto, sempre construindo a dialeticidade etimológica, sem descobrir outro caminho, consciência foi fluindo, alienando-me psicologicamente.

Tornei-me vários outros, sem saber, solitariamente.

Todos eles foram mortos, aquele que sobreviveu perdeu-se por trilhos sobre pedras.

Hoje não sou ninguém, perdido na selva na busca do cosmo infinito, encontrei a metafísica negada nas intuições dos sonhos.

Desastrosamente esgotando-me, perdendo apenas na fluência, terminando com o recomeço a essência da minha substancialidade.

Terrível o vício de ser, de deixar de ser, e, de ser a eu mesmo, entretanto, tive que ser outros.

Fui me conduzindo, o escuro escondeu-se, no brilho das estrelas, senti medo, pavor.

As vezes chorava, o sorriso misturava-se com as lágrimas, sem entender a dor, efetivou-se a alegria, substanciando o delírio.

Sem chegar em algum lugar tive que ser o bastante, como se fosse necessário, sentir a ondulação.

Foram desaparecendo todos por último também tive que finalizar-me.

Acabou-se o costume de ser, o jeito de ganhar, também de perder, apagou-se a dialética.

Fulminou-se a consciência noturna, o ideário metafísico, restando tão somente a indução, para os demais ficaram as sombras.

A ficção do ser acabou-se o lamentável costume, o habito de perder-se, a forma de sentir, o jeito de enganar-me.

Partindo sem saber, sem sentir e sem ver, sendo, deixando de ser, sem ser, vendo, sem ver, entendendo, sem entender, apenas o não saber.

Não sobrando sequer a imaginação, a não ser o tempo, que passou destruindo a existência.

O costume já não era mais o costume, o ser deixou de fluir perdeu-se o hábito.

Não se pode mais viver, foi se o tempo sobraram-se apenas nuvens negras, perdidas no desértico solo infértil.

O escuro, o congelamento final.

Uma grande bola movimentando solitariamente no espaço dançando a canção quântica, em defesa do princípio da incerteza.

A relatividade da partícula cosmofísica, pós contemporaneidade.

Sem rumo presa pela gravidade, sem luz concentrando novas energias esperando pela nova implosão, poder acontecer.

Quanto a mim, um micro átomo da eternidade, perdido na poeira química deste imenso movimento da geoastrofísica.

Edjar Dias de Vasconcelos.

Edjar Dias de Vasconcelos
Enviado por Edjar Dias de Vasconcelos em 10/03/2020
Reeditado em 13/03/2020
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