A Melhor Língua Humana
Na língua perfeita
Tudo que se fala é entendido
Sem perturbação nem ruído
Não existe interpretação errada
Pois ao falar nela você desalinha sua alma
Expõe sem nenhuma graça
De forma crua
Nua
Você expõe a verdade que é sua
E lentamente o mundo muda
Você fala e todo mundo entende
Exatamente
Palavra por palavra
Seu modo de ver e sentir
Seu modo de viver e agir
Exatamente o que você tem aí dentro
Desse crânio de metal
Tudo que você é capaz de alcançar com sua cabeça animal
Esta tudo lá
Nada é sub, mas tudo é entendido
Num exposé destemido
Sem precisar de choro ou grito
As palavras banham seu coração redimido
Não existe divisão continental
Não existe barreira natural
Demográfica, geológica, social
E sim, ninguém é igual
Mas através desta língua você compreende até seu maior rival
Você compreende que a distinção entre bem e mal
É que não existe distinção afinal
Por que então vovô, paramos de a usar?
Se ela é tão boa porque não se ouve mais falar?
Não faz sentido
Se todo mundo se entendia
Porque ainda existe conflito?
Ora criança, pois por mais perfeita que seja
A língua é um instrumento
Ela não conserta problemas de dentro
E o problema é ser imperfeito
O problema é que apesar de poder usar
Para expressar o que guardo no peito
Posso aprender a dizer o que nunca senti direito
Posso manipular algo que meramente observo
Como algo que é meu mais profundo sentimento
Falar e comover
Em qualquer língua
As palavras tem poder
Há quem usa pra se expressar
E há quem usa pra vencer
Então não demorou muito
A se tornar perigoso de ouvir
Ler e sentir
Pois era uma arma muito forte
Em vez de um aprimorador de comunhão
Virou um modificador de sorte
E foi assim que a língua perfeita
Viu a sua morte
Não é que ninguém a saiba usar
Ela está dentro de todos nós
Mas se ninguém acreditar
Qual o ponto de gritar a sós?
Então hoje ninguém fala
Por isso é tudo tão sem graça
O medo de ser enganado
Acabou com a capacidade de ser comovido
Se deixar voar
E expandir seus sentidos
A humanidade é como criança afobada
Que ao não saber brincar com seus brinquedos os parte
E é por isso que hoje não temos mais
A língua que um dia chamamos arte