SOLIDAO
SOLIDÃO
Solidão não
é a sensação sentida
por quem escreve.
Eu mesmo
não a sinto, quando
me ocorre escrever.
Porque a arte escrita,
como qualquer
outra arte
peculiar, se presencia
e não deixa
o artista solitário.
Quando se presume
que solidão
seja a ausência
física de alguém,
do lado de alguém
que se sente só,
quem assim pensa,
incorre na insensatez
imaginativa,
porque,
quantas vezes,
alguém está
cercada de gente,
e, ao contrário,
se acha na mais
angustiante solidão?
Nesse caso,
não é a presença
de alguém, do lado
de quem
se sente sozinho,
que faz
a solidão inexistir.
Mas a forma
como quem
se supõe solitário,
lida com
o próprio eu.
Na medida
em que precisa
conhecer-se,
edificar-se,
renovar-se.
Às vezes,
a presença espiritual,
invisível
ao olhar carnal,
consola alguém
que está
com a aparência
de solitário.
A impressão
que se tem,
e de não sentir-se
sozinho;
e, algumas vezes,
a própria vidência
mediúnica
revela a companhia
espiritual.
Por isso, não tenho
e nem temo
a solidão.
Quando a pessoa
física não está
perto de mim,
a presença da arte
que exerço,
não me deixa
sozinho. Além disso,
o meu eu, a minha
sensibilidade
mediúnica,
faz com que,
os amigos espirituais
estejam perto
de mim, não como
assombros
de minha suposta
solidão, mas sim,
como entidades
vivas que podem
me fazer
companhia
consoladora,
sobretudo, quando,
por alguns
momentos aflitivos,
eu me sinta
tão só.
Adilson Fontoura