AMOR CONJUGÁVEL
Vi a moça passeando
com seu cão pelas manhãs,
havia uma cumplicidade
entranhada e de estrumes.
Um amor peristáltico,
necessário
fisiológico
e aliviador.
Aquela relação
não era utópica.
Era carnal, visceral.
O amor não existe
em tempos diferentes.
Não presente,
nem pretérito
ou futuro.
O amor que é só desejo
torna o verbo inconjugável.
Um ponto no horizonte
inalcançável.
A distância é tão enorme
que alcançá-lo,
somente em sonhos.
E existem andarilhos
percorrendo, correndo
entre virgilias e sonos
na trilha da utopia.
Sonhar por quê?
Se é no “quê” que existo.
Na fome diária distraída
nas receitas dos chefs,
logo cedo, na tela da TV.
O amor é conjugável
no agora,
no aqui.
Ele existe no instante,
perecivelmente.