Madrugada sem sensações

Tiram de mim todas as flores
Não posso mais sorrir ao acaso
Nem às estrelas cadentes
O sol se pôs sem conversar comigo
A última canção ficou na alma
Despida de sensações estranhas
Eu nem sei se tenho sensações
Sou a quinta estação do ano
Sem florir ou ventar... apenas sou
E ir ser algo aqui já é grande demais para mim
Que não tenho muitas pretensões
Talvez queira um quartinho
Com uma mesa e uma cadeira
Para escrever-me um pouco
O líquido que banha a vida
Derramou no mar de Adamastor
Ressurjo feito janela que se abre
Às quatro da manhã com porquês na alma
O canto do pássaro do vizinho diz-me que não estou sozinha
E eu cá tomo uma xícara de café
Sem açúcar porque acabou
A rua dorme e eu rio dela
Sou a parte da noite que tem sensações
E eu não tenho nenhuma
Apesar disso sinto-me relógio do tempo
Ao tocar o velho piano no meio da madrugada
As ideias nascem órfãs e eu estou morta.