Anti-rábica XXI
Belém, 13 de janeiro de 2020.
Ontem quase registrei na modernidade da comunicação uma bobagem.
Uma bobagem talhada na raiva.
Uma posta de ruim sentimento.
Contudo, não o fiz.
Mas quase o fiz.
E isso me faz matutar.
Me faz pensar que há de existir uma vacina
Uma vacina anti-rábica deste virtual veneno que infiltra na mente.
Como estaria imune? Num livro?
Como seria estar protegido da doença? Num abraço?
Como seria aplicada a vacina? Num beijo?
Ou numa conversa entre conhecidos ou nem tão conhecidos que se respeitam antes de mais nada?
Aí seria aplicação pelo ar, nas gargalhadas.
Bem que poderia ser no balançar dos pés na água do frio igarapé da tua esperança.
Bem que poderia ser na festinha que fazemos para a criança no colo.
Ou talvez fosse pílula a descer doída na garganta das pessoas pela indagação implacável de Sócrates:
Conheces a Ti Mesmo?
"Verdadecilina".
Eu tento me conhecer e desconheço.
E ando alerta sobre o que sou, intuição aflorada.
Pois está bem, vou vacinar-me de frases ou atitudes desumanas.
Vou cuidar da Vida.
Vou deixar a Vida cuidar de mim.
Olha só, desculpa, tenho que ir, caiu uma manga aqui perto.
Vou guardar pra mais tarde, pra merenda.
E quando tirar os fiapos dos dentes, vou refletir sobre meus atos.
E torcer pra outra manguinha doce cair amanhã.
Que ela venha tomada de curas para este viajante
Passageiro contínuo deste tempo.