Para um ausente
Gritam-se aos homens
E às mulheres de casa
À todos os operários, a todos
felizes e infelizes,
Gritam-se a todos a seguinte história
“- Tu tens que viver!”
Sim! viver, ora
que absurdo
Mal contruí um mausoléu de tinta
E fiz dele uma casa para meu jardim
Ora, te direi em curto uníssono
“Temos de prosseguir!”
Caminhos? Pouco importa
Comigo a vida tornou-se
Um pedaço de história sem fim
Não direi mais nada a meus irmãos
Que Guardem em si suas conquistas!
Sim, amigo. Se antes houvesse alegria
Em tua vida! Tu não terias partido
Quantos meses acesos nesse inferno!
Tu me dissestes a meses que deveria
Esquecer a vida e se lembrar da morte
Um batalhão de homens eu vi,
clamando por mutilação.
Tu me dissestes a tempos, que tal fim
Era restrito aos poetas!
As estrelas do céu eram tua arte
Não, amigo.
Sequer posso esquecer-te
É melhor morrer de Vodka que de tédio
É melhor morrer bêbado que esquecido
Em vão percorro as esquinas
E as vitrines são surdas
Direi a mim mesmo:
– que dias virão!
Em nosso futuro.
Uma poesia não aquece
E em nosso nome escrevem destinos
Quantos dias esquecidos sem ti me fizeram
Esquecer dessa fornalha!
Tal poesia é inexpressiva, sem os versos
De vazia alegria
E nosso nome,
escreverão em jornais
Em defesa do lirismo e das rosas
Por acaso tu não ama rosas?
Pouca importa nossa luta armada
20 anos e nenhum lirismo
Lembrou-se de nos trazer um norte
Apenas a poesia vindoura
Nos fará esquecer esses terríveis versos
é necessário transformar a poesia
Em classe, e só então meu braço forte
nos trará a fama.
Ora, de nada importa,
Cogitar enigmas
e vomitar verdades
Talvez se a ironia não o tivesse arrancado
A alma
Você ainda estaria vivo
Não, meu amigo, não posso
Escrever como os parnasianos
E tua morte ser pra sempre a arte
Dos simbolistas!
– “Os tempos são difíceis, para os poetas!”
a eternidade nos trouxe a angústia
De um caminho incerto
Mas desde quando escolhemos como trilhar
O nosso caminho?
Podemos arrancar a alegria
das entrelinhas
O mar da vida é turbulento
E em vão cantaremos ao futuro:
Vazio.
É tudo que te resta
É preciso embebedar-se
e ler os Grandes
E correr em círculos
Para abrasar a alma
Foi você mesmo que me disse,
Que em breve as estrelas vazias
entrariam em guerra
Mas te dirão os operários, que é só mais uma história
Que nos tira o sono.
Não amigo, não posso ser
inconsistente
No mundo é preciso ser
preciso
Como uma lâmina cirúrgica
É necessário dissecar a rotina,
e só então o suor nos trará a glória
e só então o relicário
nos trará o canto
Não, amigo, não posso
trazer vida ao momento
Os tempos são difíceis, sim!
Mas de que importa
A luta?
Se digo que viver é preciso
É somente
poesia
Mas se digo que é preciso
renascer, tu me dirias
Que perdi o senso
nas mãos de Deus
Eu faria estardalhaço
Mas de nada adianta
Rugir,
nossa história e nossas conquistas
Pouco importa
A infância para nós
foi apenas um sonho
e a juventude para nós
Foi como um outono dourado
Cujos clarões nos arrancou do solo
Que diriam os oráculos
Se te vissem assim agora?
Te diriam que perdestes o juízo
ou talvez
Que o encontrastes.
Se fosse poeta como eu, talvez
Eu te daria uma rima de três versos
E a floria com alguma sina
Vodka, fama, sentido?
Despautério.
O mar da vida é turbulento
mas é necessário arrancar alegria
das entrelinhas.
Para nós viver é imaturo
Para nós
morrer não é difícil
Difícil é a vida e seu ofício