O RIO
O rio era para o pobre
A esperança de pão:
Batata doce com peixe,
Aipim com camarão,
Tudo colhido no leito,
O milho, a fava e o feijão!
O rio era para o pobre
Vazante pra criação,
Onde pastava suas vacas
Comendo capim no chão,
Onde criava suas cabras
Quando chegava o verão.
O rio era para o pobre
Lugar de recreação,
Onde as crianças brincavam
Co’ a maior satisfação,
Jogando bola na areia,
Fazendo poços co’ a mão.
Mas a ganância dos ricos
Achou-se a Dona Razão,
Cercando-o todo de arame,
Sem aceitar invasão,
Deixando o pobre de fora
No tempo da assolação!
Então o rio que era do pobre
Tornou-se só do ricaço,
Do fazendeiro egoísta
Que tomou conta do espaço,
Extraindo a areia do rio,
Vendendo em máquinas de aço!
Agora o rio é do rico,
O pobre não tem mais vez;
Não pode pescar piaba,
Pastorear sua rês,
E se atravessar a cerca
Leva um tiro, dois ou três!