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Eu e o Tempo

Vivo no poema do tempo.
No tempo das lembranças insólitas
do que quis ser e não fui, nunca serei;
do que quero ser e não sou, hei de ser.
Do que quis ter e não tive, nunca terei;
do quero ter e não tenho, um dia terei.

Sonho em ser passarinho.
Voar, vagar, descobrir mundos;
ser livre, louca, feliz, insana;
Voar, voar, voar. Viver, experimentar.
Passarinho nunca serei.
Mas voo e como voo nas asas da fantasia,
sobrevoo campos, florestas, pântanos;
vago pela minha insensatez e lucidez.
E nessas indas e vindas certo é,
pássaro nunca serei.

Quero a eterna juventude, a esperança;
a alegria de criança, a inocência;
quero a sabedoria do ancião, a calma do tempo;
e o sorriso infantil estará sempre comigo,
criança já não sou, se foi o tempo.
Jovem já fui, o tempo passou.
Mas, a fantasia juvenil andará sempre comigo;
velho também não sou, o tempo ainda não chegou.
E quando chegar algo trará - a sabedoria de uma vida vivida;
esta, comigo permanecerá.

Quero perder-me nos braços do tempo
para depois achar-me nos braços do amor;
a boca, os olhos, o riso, o suor.
Quero o prazer de uma noite de amor,
sentir nos lábios o sabor de um beijo
com toda a sua caricia e esplendor.
Quero a delicia de uma noite de paixão,
sentir no corpo o frisson do desejo
com toda a sua loucura e furor.
Ah, tempo! Como quero este amor.

Eu e o tempo.
Dias que vêm e que se vão...
Há muito por viver,
por aprender, por enlouquecer,
por rir, por chorar,
há muito por viver.

Alvaniza Macedo
04/12/2019