CIDADÃO O

Olhando no olho

O "o" do desgosto

Meu filho canhoto

Reprovou de novo

O papo é rouco

O governo é oco

O pobre é um toco

Só serve pro esgoto

Otávio é um pai sossegado

Não por não ter sido magoado

Sozinho no hall do perigo

Pegando um sol com seus filhos

Que presos, os dois, vão pagando

A pena de seus desenganos

Seu pai aqui fora sonhando

Viúvo um dia no manto

Descansar nos seus, apagando

o medo de seu abandono

Dois filhos pegaram vintão

Sequestrando e matando um patrão

Tentando fazer justiça com as mãos

Se deram mal e hoje moram na prisão

Fazer o quê? Eles nasceram pobrezão

Seu pai lutou pra lhes dar educação

Ensinar a usar a razão

E não perder tempo em vão

Eles achavam que era tudo tiração

E sua ambição

De mudar sua condição

Vendo a mãe e o pai

tendo só água e pão

Fizeram um plano em vão

Entrar em ação

O velho se sente esgotado

Visitando-os passa maus bocados

Sozinho em casa com frio

Ele sofre um repentino

AVC oh, meu Deus que perigo!

A mãe morrera de desgosto

Rebelada por esse caroço

Que a vida os deu, oh que osso!

Chegaram no fundo do poço

O pai ainda esperançoso

De ver os seus filhos de novo

Morre sozinho

E deixa tudo vazio

A casa sem um sorriso

Sem ter pai, nem mãe, nem filhos.