Folha no Outono

Se tua partida é inevitável

e não podes levar-me em pessoa,

vai fazer-me um cão sem dono...

Deixa-me aqui, à toa,

à deriva qual folha no outono.

Faz o passado imemorável

e esquece o passo enterrado,

sim, na flor d'areia quente...

Um pé descalço, escaldado,

se ti arrependes, lembra-ti do amor...

Faz de conta que é presente.

Se tua partida se reverte

e a porta inerte cala-se em ti,

o som da rua é o silêncio que me conforta.

Luis Britto
Enviado por Luis Britto em 24/10/2019
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