Plantar livros

Rosângela Trajano

Preciso urgentemente colher palavras

Para plantar livros perto do meu cajueiro

Sem que as estrelas vejam nada disso

Porque dizem as estrelas ser ciumentas

Com certezas de que todos dormem

Um buraco de ideias desordenadas

Feito aquelas vírgulas que nunca se encontram

Ou as retas desacordadas da álgebra vetorial

É preciso aprender a plantar livros

Também dentro de nós, nós mesmos

Essência una do bem que move o Universo

Não temos muito... nunca teremos o todo

Somos parte da exceção da lápide

Que diz à ave que ela está morta

Mas estamos vivos fora e dentro de nós

Como bons navegadores cuidamos do barco

Porque das águas mansas também saem gigantes

No seio da madrugada também planto livros

Em cajueiros escondidos nos meus pés.