AMOR DISFORME

Essa dor que dói

demais

que dói no peito

que dói no osso

que dói em toda

parte

Que dói...

tão profundamente

desde moço

Essa fraqueza

Esse cansaço

tão contumaz

Essa palidez persistente

Esses olhos amarelados

que me fazem tão diferente

é como se fossem uma cruz

que carrego dentro de mim

e me deixa tão disforme

no meio da nossa gente

Oh! Meu Deus

quanta indiferença

Há tantos pelourinhos

ainda de pé a gemer

nessa enfermidade

como nos negreiros

que cruzaram os mares

Quanto olhar ímpio

e quanta maldade!

Quantas feridas abertas

sem necessidade

Isso não é destino!

Quanto sofrimento

e quantas foices

do abandono

a ceifar meninas

e meninos

Mas em algum lugar

uma bandeira branca

se levanta

e a mão estendida do cuidado

será o refúgio, mais uma vez

dos que suplicam direitos,

amor e ética para um erro

aleatório da genética

- Dessa nobre e linda tez

(Homenagem aos pacientes com anemia falciforme que ainda sofrem pela falta de assistência)