A gota

Início a minha formação em pleno estado líquido, corro a face da pedra áspera e me despejo junto ao rio, lá me encontro com outras partes e me torno um, descendo rio abaixo salto na cascata formando véu, mergulho em mim e no leito sou pega, sugada, absorvida nas fibras brancas do tecido em algodão, não caio, vou me sentindo leve, até que sublimo, levito, no céu encontro partículas que por características são parecidas comigo, ao menor sinal de vento, me desloco quilômetros, sigo voando e quando chega a hora, no ar frio, me despenco crendo que vou ser parte do oceano dessa vez, ouço trovões a soluçar, me aproximo do solo e PING.

Deslizo na face não áspera de outrora, mas desta vez, quente, lisa e macia, encontro o sal e não é do oceano e sim da lágrima que rolava bem no momento em que eu tocava o rosto da jovem que não sei por qual motivo chorava.

Eu, a pequena gota de chuva que ansiava me juntar ao oceano devido sua vastidão me juntei a lágrima da jovem e pude me sentir mais útil ajudando a lavar a dor que assolava seu rosto naquela tarde de relâmpagos e chuva fraca.

Adilio Roza