GENESIS

Sou o eco inconsciente

da convulsão do universo

magma que busca o fogo

instinto que atrai a razão.

Sou memória primordial

da causa da existência

sou a matéria inerte

que se tornou pensamento.

Sou o verme que se ergue

e habitou em cavernas

as espécies que se movem

e dominam sobre a terra.

Sou pai de antigas crenças

que se chocam entre si

vida que surgiu das águas

anteriores à Criação.

Sou as raças mudando sua cor

em incessantes migrações

todas sob o mesmo sol

tão iguais em sua origem

tão iguais em sua essência

e se tornando etnias

de aparentes diferenças.

Sou a longa noite da História

que se perdeu em si mesma

e só entrevemos nas sombras

dos sonhos da Mitologia.

Sou o antigo patriarca

que submete esposa e filhas

e humilha filhos varões

ao pé dum obelisco

símbolo de sua origem

em infame adoração.

E sou o seu primogênito

tratado qual meio-homem

que se vinga em seus iguais

e faz surgir o machismo.

Sou sacerdote de Babel

que tenta desvendar os céus

sou a confusão das línguas

e fanatismo das religiões.

Sou o inimigo de mim mesmo

emaranhado de conflitos

esconderijo de complexos

que ameaçam minha espécie.

Quem sou eu, que nem mesmo sei

o que sinto ao dizer “eu”?

Quem sou, se meu próprio deus

me responde “Eu sou quem eu sou”?

Quem sou, que mesmo assim,

me julgo tão superior

aos que tiveram a mesma origem

no princípio do universo

e mesmo que eu não perceba

se perguntam como eu

a cada instante – “Quem sou eu”?

Cláudio Luiz Sá Brito Machado

Em 28 de setembro de 2019

Cláudio Luiz Sá Brito Machado
Enviado por Cláudio Luiz Sá Brito Machado em 30/09/2019
Código do texto: T6757511
Classificação de conteúdo: seguro